terça-feira, 21 de outubro de 2014

Rematch.

Não desejo a ninguém, mas indico a todas. Acredito que esta é a primeira e mais importante coisa que tenho a dizer.

Aqui e também aqui conto um pouco dessa saga por uma família quando estava no Brasil. Na minha publicação de Setembro no Blog das 30 Au Pairs contei como é que ocorre o processo de Rematch pela CC. 


Estive com minha primeira família durante 8 meses. Como qualquer outra família, nada eram flores todos os dias. Pode parecer difícil de acreditar mas eu era mais fria que meu hosts. Sim, era. Por favor não me julguem. Conquistar uma verdadeira e duradoura aproximação com pessoas pra mim ainda é um desafio diário. E venço todos os dias um pouco mais. Acredito, porém, que este foi o motivo principal que me levou a entrar em rematch.

Cuidava de duas crianças, uma menina de 4,5 anos e um menino de 2,5 anos (quando cheguei). Meu horário de trabalho era fixo, de 7:30am às 4:30pm. Ganhava extra a cada meia hora de atraso de um dos hosts, folgava nos mesmos feriados que eles folgavam e trabalha nos mesmos finais de semana que eles trabalhassem. Tinha carro para trabalhar (minivan) e um outro para uso pessoal. Tinha um quarto de um tamanho de uma dependência de empregada no Brasil e um usava o banheiro social (o que é normal).

Pontos negativos e positivos de dia a dia já deu pra notar por ai, né?

As crianças... bem, crianças são crianças e eu não tenho e nunca tive obrigação de amar nenhuma das duas, mas me apaixonei pelo moleque e criei aversão a mais velha. Ela era a preferida da família, sem tirar nem por, nem maquiar. As atividades da casa giravam em torno das atividades para ela. As atividades para o menino eram deixadas de escanteio enquanto as dela, mesmo ela estando doente, eram prioridades. Morria de pena pela forma como ela era impelida a fazer as atividades mesmo estando doente e estressada. Os pais, no entanto, queriam que ela estivesse presente das atividades. Ok. Sem problemas.

O moleque estava na transição entre ser um bebê e ser uma criança. Foi mais fácil me apegar a ele, porque ele nunca lutou contra minha presença na casa, nunca me negou um abraço ou me negou a mão, enquanto a menina me xingava, queria me bater e grunhia como um animal quando olhava pra mim na mesa de jantar. Os pais falavam, mas não faziam nada contra. Afinal, "ela estava se acostumando a mim".  As tentativas de agressão duraram 2-3 semanas, os xigamentos duraram 1-2 meses, ela grunhiu durante todos os 8 meses na hora do jantar. 

Até que um dia, num dia que eu estava muito puta, muito nervosa, conversando com a mãe dela, ela se aproximou e eu, me sentindo no direito de pessoa, neguei um abraço. E esse foi o motivo do meu rematch: não ter me conectado a uma das duas crianças que tomava conta,  e ter negado a ela um abraço.

Chamem-me do que quiserem. Eu me achei no direito de negar uma abraço a uma pessoa (pequena, porém pessoa) que não gostava e não tinha conexão espiritual alguma.

Como nossa convivência sempre foi muito boa, fiquei na casa até 10 dias além do meu prazo de rematch e consegui, na ultima semana, possíveis 3 matchs, que me deixariam bastante contente. Escolhi o que meu coração mandou. E não me arrependo. 

A lista de prós e contras é extensa e intensa, mas sou do tipo de pessoa que procura guardar a parte não satisfatória das experiências como aprendizado empírico e as melhores partes procuro guardar num baú de memórias seletas no meu coração. Estas eu guardo no baú:

(chamarei de E. e T., respectivamente, a menina e o menino)
  • ensinar E. que fazer xixi no chão da sala, aos 4 anos de idade, não é um maneira de chamar a atenção dos pais.
  • ensinar E. a se limpar "de frente pra trás" depois de fazer o #2.
  • ensinar E. a seguir regras.
  • ensinar E. a se vestir e se calçar.
  • ouvir T. dizer que me ama no meio de um dia frio de inverno
  • ouvir T. dizer "G" is for Gabi.
  • ouvir T. dizer de manhã cedo "Where's Gabi?"
  • ver T. correr pra me abraçar de manhã bem cedo, eu estando de bom humor ou não.
  • ensinar T. a usar o vaso e se vestir antes de eu sair da casa deles.
  • chorar na estação de trem por vê-los partir na minivan sentindo saudade antecipadas do dia a dia com crianças e barulhos. 
  • ver minha host mom se esforçando para me agradecer pelo que fiz durante os 8 meses.
  • ver meu host dad quase chorando ao me deixar na estação de trem.
Intensos e longos 8 meses.

O melhor da vida é que ela continua. 

Caminhar em direção à Luz buscando encontrar a Sombra pra acalmar os ânimos.


Um comentário:

  1. Oi Gabriella! Fui au pair há 5 anos atrás e como vc, tenho arrependimentos e coisas positivas tbm. A minha primeira familia foi mto parecida com a sua. Tinha uma menina de 3 e um menino de 1 qdo cheguei. Nunca criei vínculos com a menina, que era mimada e fazia a mãe de gato e sapato. Mas, decidi q nao iria fazer como a mãe, apesar dela achar q sim. Assim que saía pra trabalhar, as coisas andavam no meu ritmo, ela nao fazia birra comigo nem comandava a situação. Acho que por isso ela não gostava de mim. Mas foi melhor assim, pois se não meu trabalho iria ser dificil, tudo teria q ser do jeito e o tempo dela. Mas era uma familia especial, apesar de tudo. E o menino….chorava qdo eu ia pro meu quarto. Saudades imensas, mas sao "ossos do oficio". :)

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